O tema Acessibilidade tem sido a tônica do momento, por muitos e muitos anos a Pessoa com Deficiência esteve à margem da sociedade, seja pelo preconceito ou por uma simples e ignorante falta de conhecimento do assunto. A Constituição através de leis extremamente pertinentes e de sensibilidade única, tenta, porém, sem muito efeito, incluir a Pessoa com Deficiência no seio da sociedade tida como “normal”, mas, leis escritas em papel sem alguém ou alguns que as façam serem cumpridas, acabam se tornando obsoletas, esquecidas, desrespeitadas, enfim, sem valor algum.
Mas as leis não passam de uma imposição, eu diria até, de uma simplória forma dos legisladores se sentirem politicamente corretos e, até mesmo, de se sentirem menos culpados pela desigualdade criada ao longo da existência da humanidade.
É fato que, qualquer pessoa que se apresenta com alguma deficiência ou deformidade anatômica, seja ela, adquirida ou congênita, é o suficiente para que seja submetida aos olhares e pré-julgamentos preconceituosos de um outro ser humano que se acha “normal”. Infelizmente, a vida nos proporciona situações inusitadas e imprevisíveis, de maneiras totalmente adversas ao conceito de normalidade.
Esse “vazio” cultural, impregnado na história da humanidade, não será mudado através de imposições escritas (leis) ou até mesmo, sob forças impostas pela compaixão para com as “diferenças”. É certo que, temos que lutar sempre pela igualdade de condições, pelo respeito como cidadão, por oportunidades de trabalho, enfim, pela tão sonhada e quase utópica Acessibilidade.
Como é cultural essa polêmica, a Acessibilidade e a Inclusão Social, também terão seu tempo para se readaptarem e, não será na pura imposição do politicamente correto. Nossa luta terá que ser baseada única e exclusivamente na conscientização do ser humano, em especial, da própria Pessoa com Deficiência.
Não basta exigirmos os “nossos direitos”, temos que mostrar e provar à sociedade que nós temos e somos capazes de tudo, a superação plena é a melhor forma de provarmos esta tese. Para tanto, precisamos quebrar o preconceito da própria Pessoa com Deficiência e de seus familiares, pois, o preconceito inconsciente e despercebido se inicia dentro de casa.
A cultura aqui citada, o preconceito, a ignorância, a hipocrisia e a demagogia da sociedade em sua grande parte não me surpreende, mas, o que me deixa mais indignado, é a falta de respeito. Esta é a palavra chave para nós Pessoas com Deficiência, RESPEITO.
O Poder Público nos desrespeitam com o descaso, com a ineficiência nos atendimentos nos Postos de Saúde, com o desrespeito do direito de ir e vir, com a falta de planejamento de políticas públicas na melhoria à acessibilidade, inclusão social e profissional.
Mas a falta de respeito que mais incomoda, é a praticada covardemente contra as Pessoas com Deficiência, que é a política da necessidade, tão sórdidamente usada pelo comércio. Pois, ser deficiente ou ter alguma deficiência é sinônimo de necessidade de diversos itens essenciais à nossa sobrevivência, e, que são oferecidos e explorados pelo mercado, este que ao meu ver, é desleal, desrespeitoso e covardemente abusivo.
Exemplos: Vejam só, uma bicicleta moderna, com quadro de alumínio, 10 marchas, e, outros detalhes mais, tem o preço no mercado em torno de R$ 600,00 a 2.000,00, pois bem, uma cadeira de rodas, com quadro de alumínio, duas rodas com pneus semelhantes ao das bicicletas, duas rodinhas rígidas, um assento de lonita ou outro tecido qualquer, chegam a custar ao cliente o equivalente a R$ 2.500,00.
Um determinado automóvel que na concessionária custa ao cliente “normal” R$ 60.000,00. Ao “deficiente” que necessita de determinada adaptação, chega a custar até R$ 84.000,00.
Ah, mas o governo concede isenção de IPI, ICMS, etc., bom, vamos esclarecer tais concessões esdrúxulas: IPI é o único concedido à qualquer Pessoa com Deficiência, dependendo do valor e das cilindradas do veículo, isso por si só já caracteriza uma forma de preconceito. ICMS só é concedido às Pessoas com Deficiência que dirijam, ou seja, o Deficiente Visual, o Tetraplégico sem condições de dirigir, ou até mesmo ao que opta por não voltar a dirigir, não tem direito à isenção do ICMS, ou seja, a nossa legislação, também é preconceituosa!
Então nossas leis já não são mais tão pertinentes e sensíveis, como dito anteriormente. Complicado esse negócio de preconceito, não acham?
Para quem tem um automóvel e precisa de uma rampa manual, acreditem, chega a custar R$ 13.000,00. Se optar por uma rampa hidráulica e elétrica, pasmem, custa em torno de R$ 22.000,00.
Eu encontrei um mecânico disposto e de boa capacidade inventiva que concordou em fazer uma rampa em meu carro, igual e com os mesmos materiais da rampa manual anteriormente citada, com material e mão-de-obra, custou R$ 1.700,00. Isso não é incrível?
Aqui em Campo Grande – MS, duas lojas de referência em consertos e vendas de cadeiras de rodas, não tem acessibilidade, isso mesmo, existem degraus na entrada das lojas, que nome se dá a isto? Desrespeito!
Exceções á parte, não temos calçadas acessíveis, não temos locais apropriados nos cinemas, teatros, locais públicos, etc. Nos restaurantes, bares e demais, às vezes, tem uma rampa, mas, as mesas não tem altura e largura para receber um cadeirante, e, nossas leis são claras nestes casos, mas, onde está o Poder Público? Onde estamos nós? Cobramos?
Portanto, cabe a nós, Pessoas com Deficiência, nos dar ao respeito, para então, cobrarmos com veemência, com propriedade, com dignidade, e, exigir das autoridades para que façam sua parte, devemos mostrar à sociedade com atitudes, exemplos e superação que merecemos o respeito e a conscientização de todos.
Para isso, precisamos nos conscientizar e aprender a nos respeitar, para então, conquistar o respeito da sociedade esclarecida.
A falta de respeito é o que nos leva à um mundo inacessível.
Adriano Garcia
Méd. Veterinário, Cidadão e Cadeirante