quinta-feira, 18 de junho de 2009

A COPA E O CADEIRANTE O assunto da moda é a mudança de nome do nosso estado, coincidência ou não, a ideia ressurgiu após a decisão da FIFA ao preferir Cuiabá – MT para ser subsede da Copa 2014. Todos nós sentimos frustração e tristeza, principalmente pela incompetência política e pelo amadorismo dos nossos governantes. Mas o que me deixou mais estupefato foi ter lido as declarações do nosso prefeito, onde afirma que quem mais sofrerá com a falta de investimentos estão entre outros, os projetos de mobilidade e acessibilidade para nossa capital. Ou seja, quem perde sempre é a população. Mas alguns pontos me deixam mais frustrado e simplesmente indignado em não receber a copa, como por exemplo: Acessibilidade ficará sem investimentos... Por acaso, já teve? Eu sou cadeirante, confesso que “diferente”, na essência da palavra, pois, trabalho e pago altos impostos, taxas, contribuições, e, quando posso, contribuo com entidades assistenciais, mas aí alguém pode perguntar “quem não faz tudo isso?”. É verdade, pagamos muitos impostos, também somos na grande maioria solidários, mas a grande diferença é que eu sou um privilegiado, pois, sou um cadeirante que tem a oportunidade de ter um trabalho, ao contrário de milhares de deficientes físicos existentes em Campo Grande, que se quer, são lembrados por nossos políticos. Sem querer ser injusto, nas eleições alguns até lembram. Agora pergunto: Os projetos de acessibilidade terão que esperar a Copa de 2070? Ou quem sabe os Jogos Olímpicos de 2072? Não importa, afinal, o que não nos faltam é ESPERANÇA, por falar em falta, para os cadeirantes e demais deficientes físicos, em nossa capital Morena falta tudo, mas principalmente, respeito!!! Além de não termos guias rebaixadas, calçadas sem obstáculos e niveladas, acesso ao comércio, inclusão social, local adequado no teatro, no cinema, vagas para estacionar um carro, isso mesmo, ou será que nossas autoridades pensam que cadeirantes e deficientes físicos só andam de ônibus? Ou pior, acham que nos deslocamos “tocando” nossas cadeirinhas? Mesmo se quiséssemos não daria, Campo Grande cresceu, as distâncias aumentaram e as dificuldades de acessibilidade mais ainda. Não estamos pedindo favor, estamos exigindo um direito de cidadão, afinal, os deficientes físicos se alimentam, vestem roupas, sapatos, cortam cabelo, querem sair com a família para almoçar num restaurante, freqüentar um bar, uma casa noturna, mas, não é possível, por causa de uma única palavra, ACESSIBILIDADE. Há alguns dias em uma aventura insana e imbecil resolvi voltar do trabalho para casa, a pé, quero dizer, de cadeira de rodas, o trajeto tem cerca de 1.000 metros, do Bairro Monte Líbano até o bairro TV Morena, pasmem, “rodei” cerca de 50 metros no máximo em cima de uma calçada. Na próxima, vou filmar o trajeto... E nosso prefeito ainda diz que a acessibilidade perderá. Perderá o que? O espírito de aventura? Nessa “falta de verba” que nossas autoridades insistem em declarar, já estou ficando assustado, pois minha cadeira é motorizada, será que terei que pagar IPVA? No início de 2.008 a prefeitura “criou” uma pasta chamada Coordenadoria de Acessibilidade, chegou a nomear um amigo nosso, cadeirante e militante ativo na luta pela tão sonhada acessibilidade, da simplória solenidade de nomeação, da qual me lembro como se fosse hoje, o prefeito disse mais ou menos assim: “Agora vocês tem uma coordenadoria para assuntos de acessibilidade. Binho se vira, faça projetos e corra atrás de verbas, semana que vem arrumaremos uma sala pra você, agora é trabalhar”. Passaram-se pouco mais de um ano, o Binho sumiu, não deu mais notícias, pensei comigo: “Virou político, esqueceu do compromisso e dos amigos que lhe apoiaram”, como não sou de me acomodar, liguei para o amigo, qual foi a surpresa, adivinhem? Simplesmente esqueceram do nosso coordenador, por certo, mandaram que esperasse sentado! Parece piada né? Esse é o respeito com o qual nossos políticos tratam da acessibilidade em nossa capital, ou seja, os cadeirantes não gritam, não fazem passeatas, não fazem greve, aliás, não tem nem emprego, fazer greve do que? Greve de fome? Muitos até tentam, parar... Só que, a população de Deficientes Físicos de Campo Grande, pode eleger um ou dois deputados estaduais, três a quatro vereadores, e, nas eleições aí sim, lembram de nós, ih... Lá vêm eles, prometendo e humildemente pedindo nosso voto. Pois é, nas próximas eleições, com certeza lembraremos dos ilustríssimos candidatos que aí estão. A conscientização política é lenta, mas, ela tem avançado e cabe aos cidadãos em geral analisar como nossos políticos tratam as minorias, é dessa forma que alguns passam despercebidos e, quando menos se espera, estarão “lá” por mais quatro anos. Mas voltando ao assunto da mudança do nome do estado, ao invés de plebiscito para trocar ou não, se vai chamar Campo Grande, Pantanal, Maracajú, ou qualquer outro, eu sugiro com todo carinho e amor que tenho por MATO GROSSO DO SUL, pois, sou filho desse estado, a meu ver uma mudança muito mais barata e necessária, mas, sobretudo, fundamental para o crescimento do cidadão Sulmatogrossense e para o progresso desse Estado estagnado, estagnado de obras, estagnado de ideias, de cultura, de saúde, de educação, de segurança, de respeito para com o cidadão, é simples e realmente de baixíssimo custo, é só não esquecer, nas próximas eleições é só tirarmos os incompetentes e os hipócritas e renovar, aliás, o nome que mais precisamos pra este estado é RENOVAÇÃO. Adriano Garcia Méd. Veterinário, cadeirante e cidadão. adrianogarciavet@uol.com.br

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